Embora nesta altura do ano o caudal seja inferior, a beleza é ímpar se pensarmos que o Rabaçal se localiza perto do maior planalto da ilha da Madeira - o Paul da Serra. De facto, quem de carro passa na grande recta do Paul da Serra, e vendo uma vasta área de 20 km2 de vegetação rasteira e arbustiva, não imagina que lá no interior existem cursos de água que, como por magia, tranformam a paisagem em algo exuberante.
São quedas de água vertiginosas, lagoas límpidas e paredes constantemente habitadas por musgos, antóceros e hepáticas. Ou seja, ao longo desta nossa caminhada pudemos apreciar muros e paredes habitados por autênticas alcatifas verdes. Não são mais do que vegetais terrestres (briófitos) que ocupam ambientes húmidos, pois dependem da água para a fecundação, e são extremamente sensíveis à poluição. Por existirem ali em grandes quantidades podemos afirmar que estivemos num ambiente pouco poluído pois estes vegestais terrestres funcionam como bioindicadores.
Após algumas fotos no pequeno miradouro do Risco voltámos um pouco para trás, e descemos uma longa escadaria que culmina na esplanada da levada que nos conduz às 25 Fontes. Aqui caminhámos em sentido contrário ao da água da levada.
Após pouco mais de 1 hora de caminho, e tendo sempre a levada como companhia, chegámos finalmente à atracção principal da nossa caminhada - as 25 Fontes.
A lagoa das 25 Fontes fica localizada imediatamente antes de uma ponte de pedra, à direita. Uma densa vegetação envolve a lagoa e é através desta vegetação que a água de pequenas nascentes, localizadas mais acima, conseguem chegar à lagoa, fazendo um bonito efeito, como se 25 ou mais fontes a alimentassem.
O caminho até às 25 Fontes não é difícil se cumprirmos com as regras básicas de segurança. Em certos momentos a esplanada da levada é extremamente estreita e, os mais distraídos, poderão desiquilibrar-se. É, normalmente, regular e plano embora encontremos pelo menos 2 escadarias que nos exigem um pouco mais de esforço, mas como o objectivo não é tirar corridas fazemo-lo "devagarinho e certo", como se costuma dizer.
Após uns largos momentos de contemplação da beleza que nos rodeava voltámos para trás até à seta que nos indica a subida até à Casa do Rabaçal. Aqui foi necessário esperar pelo grupo todo pois não voltaríamos a subir a escadaria que dá acesso à Casa.
Seguimos em frente, pela levada, e cerca de 45 minutos depois estávamos perante a entrada do "Furado Novo". Este furado foi construído entre 1863 e 1877 e mede cerca de 800 metros. No "Furado Novo" passam as águas da Levada Nova do Rabaçal. A construção desta levada ficou concluída em 1890 e tem origem na Ribeira dos Cedros, a 990 metros de altitude. São afluentes desta as 25 Fontes e as Captações da Ribeira Grande do Risco. A Levada Nova rega a Calheta, o Estreito da Calheta e o Arco da Calheta.
À saída do furado seguimos pelo caminho à direita e, cerca de 15 a 20 minuto depois estávamos no sítio conhecido como "Garagem", na estrada que liga a Calheta ao Paul da Serra.
Ao longo deste passeio tivemos a oportunidade de ver diversos exemplares de Vaccinium padifolium, arbusto endémico popularmente conhecido por Uveira da Serra, com folhas perenes e macias e cuja madeira é bastante rija. As bagas da Uveira da Serra já se mostravam suficientemente maduras para os mais gulosos colherem e saborearem aquele fruto de sabor agridoce e levemente adstringente. Com estas bagas podemos fazer compotas caseiras, sumos, purés, marmeladas, geleias, doces e vinagre. Segundo a sabedoria dos mais antigos é um excelente remédio para a tosse e para o catarro. Há uns anos este fruto foi colhido e exportado para França, para o fabrico de um medicamento oftamológico. (Meneses & Silva 1998, Capelo et al. 2004, Quintal 2003)
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